domingo, 14 de novembro de 2010

Pamonha , pamonha , pamonha

                                                  Pamonha , pamonha , pamonha
                          Reprodução Livro Textos e Linguagens
                                             8 ª Série
                                 Autor : Sérgio Tannenbaum

    Ainda não eram nove da manhã e a perua dobrava a esquina e vinha lentamente em direção ao prédio , anuciando:
    " Pamonha , pamonha , pamonha . Pamonha de Piracicaba. Pamonha , milho verde e curau."
    Uma frase já era suficiente para acordar qualquer um. Mesmo aqueles de sono mais pesado eram religiosamente despertados pelo homem da pamonha, todos os domingos . E enquanto houvesse um unico morador no prédio ou em toda vizinhança dormindo , lá vinha o alto-falante:
    '' Pamonha , pamonha , pamonha . Pamonha de Piracicaba . Pamonha , milho verde e curau."
    Nas primeiras semanas, apesar do incômodo , nada fizemos. Era só uma questão de tempo .Logo o Pamonha, como ficou conhecido o sujeito , iria arrumar outros clientes nas redondezas e nos deixaria em paz. Mas passados dois meses, o inferno continuava . Por isso , resolvemos convocar uma reunião dos moradores .
    A assembléia foi marcada para o domingo , ás nove da manhã. Tinhamos certeza de que todos estariam acordados e , principalmente , revoltados com o Pamonha . Foi o maior quorum em assembléias de toda a história do condomínio. Foram necessários menos de quinze minutos para a deliberação final.
   Definiram-se três etapas para se alcançar o objetivo. A primeira consistia em dialogar com o Pamonha e tentar convencê-lo a ir embora . A segunda etapa seria subornar o Pamonha para que ele sumisse do mapa. Se isso também não funcionasse , a última etapa , a mais radical , deveria entrar em ação . Uma criança , escolhida por sorteio no condomímio , iria se vestir com um colete de dinamite e ser explodidaexatamente no momento em que fosse comprar uma pamonha.
   A terceira etapa nem prescisou ser acionada . O Pamonha fez um acordo: não mais usaria o alto-falante se tivesse garantda a compra de vinte pamonhas por domingo. Era um preço baixo que tínhamos que pagar . Dividíamos as despesas entre os moradores. Cada semana , cinco apartamentos recebiam as pamonhas. Muitos abriram mão da pamonha e apenas pagavam a sua parte.
  Com o passar do tempo , as pessoas foram enjoando das pamonhas. Ninguém mais aguentava o cheiro de milho verde . Em nova assembléia , novamente por unanimidade , ficou estabelecido que o Pamonha nem prescisaria mais entregar as pamonhas.  E mais: se ele insistisse em entregar as pamonhas , a etapa três seria ativada . Mas , para o pamonha não sair no lucro , combinamos que ele deveria entregar as pamonhas numa favela próxima.
  O valor rateado para pagar o Pamonha já estava embutido no total do condomínio do mês , o que fez com que muitos moradores esquecessem definitivamente o assunto. Os novos moradores surpreendiam-se ao ver na prestação de contas do condomínio um item denominado "taxa do Pamonha". Diante do valor pouco expressivo , contentavam-se com qulquer explicação do síndico.
  O Pamonha , por sua vez , cumpriu sua parte no acordo . Toda semana aparecia na favela pra distribuir as pamonhas gratuitas . Assim , foi-se tornando muito popular e querido na região . No domingo , as crianças esperavam ansiosas a chegada da perua . Para muitas , o curau , o milho verde ou as pamonhas entregues de graça eram a unica refeição em muitos dias.
  O Pamonh já não era só Pamonha a ser chamado de o " Pamonha , o amigo dos pobres". E mesmo sem nos consultar , ele resolveu entregar pamonhas gratuitas em outras favelas mais distantes . Em dois anos , " Pamonha , o dos pobres ...

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